terça-feira, 22 de setembro de 2020

Um breve desabafo

 

Um certo dia recebi uma ligação de um senhor onde ele falava que estava doente e me esperava para acompanha-lo ao hospital, que ficava localizado em outro Estado. Porém, infelizmente, não pude atende-lo no momento em que me telefonou, eu estava em outra cidade e estudava em outro país.

Mesmo assim muito pacientemente, ele falou: “Tudo bem, vou esperar, mas quero que você esteja comigo”. Terminei o que tinha para ser feito e me desloquei até a cidade de onde esse senhor me ligou.

Antes de ir pedi algumas informações a respeito do que ele sentia e do seu quadro clinico geral. Ele me passou algumas informações, me encaminhou alguns exames que havia realizado e detalhou tudo que estava sentindo. Conversei com o meu superior e de forma muito técnica me falou a real situação em que se encontrava aquele senhor. Ouvi atentamente cada palavra, prestei atenção em cada movimento labial e cada detalhe que me apresentava nos exames. Por fim agradeci e fui... Fui ao encontro do senhor que havia solicitado minha presença para acompanha-lo.

Chegando em sua casa ele me recebeu de forma muito calorosa e com um grau de carinho a mais do que o normal. Em um breve conversa me informou o dia da viagem, que coincidia ao dia da minha festa da universidade, mesmo assim fiquei calado, já que ele tinha me esperado durante tantos dias para poder viajar e ir ao hospital.

Às vésperas da viajem, no sábado, marquei uma sessão de fotos já que não realizaria no dia da festa da universidade, pois estaria viajando com o Sr. Que tinha me telefonado. Enfim pegamos estrada, mais de 6 horas de viagem de carro até chegar em PVH.

Lá chegando iniciamos a peregrinação para realizar a ficha de entrada no Hospital de Amor, ser consultado, realizar alguns exames, cirurgias e internações. Entre uma consulta e outra, retorno para a casa que estávamos e as idas ao Hospital por conta das dores, mal estar e vômitos, uma cirurgia e outra (ao todo foram 3 tentativas) não realizadas por conta da gravidade da doença (CA) ele ia cada vez ficando mais debilitado, um pouco impaciente mas nunca sem ESPERANÇA.

A cada procedimento realizado com o resultado negativo os médicos me chamavam para conversar e explicar o porque não tinha dado certo a implantação da bolsa de colostomia, colocar a sonda para alimentação e/ou acesso parenteral. E a maioria das coisas eu estava sabendo antes mesmo de sair da minha casa para viajar com ele até o hospital.

Da nossa chegada até o dia que retornamos para o Acre não se passaram 30 dias pois a sua doença já tinha se espalhado, estava com metástase no fígado, peritônio, fêmur e tinha começado no cólon.  

Recebemos alta no dia 7 de janeiro de 2020, saímos de PVH pela parte da manhã quando foi as 16 horas e alguns minutos do mesmo dia estávamos em Rio Branco em sua casa, local do seu sonho materializado, seu lar, seu aconchego, sua paz. A exatos 9 dias após sua chegada em Rio Branco ele fez sua passagem para o plano espiritual. Assim foi a historia daquele senhor que me esperou leva-lo ao Hospital e que desde do inicio procurei trata-lo como meu 1º paciente para ter forças suficiente e cuidar da melhor forma possível, já que ele é meu PAI.

Durante todo o tempo que enfrentou sua doença ele nos deixou várias lições, a principal delas que não precisa temer a morte, e demonstrou a grandeza da sua fé, invés de nós familiares conforta-lo ele que nos confortou.

Deixou um legado de Humildade, Fé, Força de vontade e Esperança.